terça-feira, 22 de novembro de 2011

Das vezes que me sinto só





O barulho cotidiano é quase funk. Horrível. Tem horas que somente uma boa e generosa dose de silêncio e quietude nos faz bem a alma. Ao sentimento. Essa solidão é predestinação, não abandono, mas possivelmente uma escolha; está-se e não se está só, ao mesmo tempo, sem se contradizer. É canteiro de obras, não escombros. E assombro.

A solidão de quem sente só dói no coração de quem vê. Não é a toa que os amigos se inquietam ao ver-nos cerrados. Aos amantes é quase tortura. Postar-se frente a uma porta fechada é desconfortável, além de preocupante. Essa “porta dos desesperados” pode conter um lindo brinquedo, ou um monstro terrível. Mas para os que sentem é refresco, é banho de mar em pleno verão.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Reescrever




Não é de hoje minha admiração pelo trabalho de Lulu Santos. Desde minha tenra idade, onde, proibido pela igreja de "ouvir música do mundo", escutava escondido, totalmente "rebelde", as melodias que ecoavam no toca fitas de um tio que morava próximo de casa. A musicalidade me encantava. Se me restava algum medo de estar em pecado, esse tio se encarregou de me tranquilizar dizendo que a música "A Cura" falava de Jesus. Na juventude embalou romance, fazendo-me gostar, escondido, de Beatriz Brandão, subentendido, tendo como trilha sonora "Apenas Mais uma de Amor". Talvez tenha sido o cantor “herege” que mais participou e cantou minha vida.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Podres Poderes


Dado os fatos atuais, nenhuma música seria mais divina e mais inspirada para um momento como estes.

Em apoio a nossos bombeiros e tantas outras vítimas de nossos Podres Poderes.




sábado, 21 de maio de 2011

Série: A Teologia Me Enganou - Vitória e Bênção





Ao falar de teologia, lembro-me, inevitavelmente, da lamentável denominada Prosperidade. Em voga nas igrejas neo-pentecostais, o assunto tomou os púlpitos das igrejas e os corações dos fiéis de maneira que, com a ajuda da retórica pastoral e o abuso de versículos descontextualizados, formou-se uma concepção acerca de Deus nitidamente absurda: um Deus que se preocupa mais com o bem estar financeiro e com a honra do nome de seus seguidores do que com a fome na África.

A Vitória e a Benção foram erguidos como "bezerros de ouro" no meio do "arraial" evangélico como forma de lucro e ganho, principalmente para pastores e bispos. Mas o foco deste Post/desabafo está sobre os sentimentos e as impressões que ficam visíveis a partir das reações dos fiéis.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Na Esperança do Recomeço

Escrito em um desses momentos em que a alma luta para encontrar um motivo que faça o corpo respirar.




Na esperança do recomeço descanso
O recomeço que alcança a paz
Confortado por palavras brandas
De amor, carinho e serenidade

Futuros parecem tão distantes
Àqueles que esperam o cumprir
Mas que dias os levariam além
Se não os da prova e da dor pelo porvir?

Só nos resta a esperança
Que é a fé massacrada pelo ardor
Fé tão fortemente combatida
Que até diminuída parece

quinta-feira, 5 de maio de 2011

União Civil de Casais Homoafetivos - A Incoerência no Discurso Cristão




Meu post surpresa se deu pela emergência de um assunto polêmico, apoderando-se de mim que há muito elucubro sobre o tema. É especialmente saboroso quando essas coisas acontecem: ser tomado pela ideia ao invés de tê-la pra si. Dou uma pausa na Série, mas não consigo me afastar do assunto da teologia.

Pela tarde, minha timeline do Twitter foi invadida por inúmeras citações contrárias a #uniaohomoafetiva seguida da hashtag #eudigonao. Milhares de cristãos foram ao meio digital expressar sua opinião sobre um assunto, de fato, polêmico. Melhor seria dizer, foram exercer o seu direto de livre expressão ideológica, mas principalmente religiosa. Direito esse dotado de legalidade e legitimidade que não nego. Alguns deles diziam que “SE ESSE PAIS TEM COMPROMISSO COM O POVO NÃO VAI APROVA” (assim mesmo, com erro de português) ou “SE O BRASIL FOR UM PAÍS SÉRIO NÃO VAI SER APROVADO”.

Considero-me dotado do direito e, mais que isso, do dever de declarar um erro visível nesse meio evangélico atual. Falo de dentro para dentro, de um cristão para um cristão.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Série: A Teologia Me Enganou - Deus Interventor II






Ao escrever o post anterior percebi que dele poderia derivar outro, dado o fato daquele não saciar meu intento. Retomarei o pensamento.

“O mundo vive “na expectativa de que Deus vai intervir”, evitando a doença ou curando, livrando da bala perdida, do roubo, da perda, adiando o luto ou até mesmo ressuscitando dos mortos; presumem que Ele escutará todas as orações garantindo finais felizes. A confiança e a fé são pautadas, fundamentadas, em um Deus que garante bem-estar e segurança.” Post anterior

Se existe uma “semiverdade”, esta é: Deus quer te ver feliz. Essa ideia, se levada às últimas consequências, ensina que aquilo que não me deixa feliz não comunica a totalidade da vontade de Deus. Portanto, todas as coisas ruins possuem apenas alguns motivos de ser: o diabo, o pecado ou (a meu ver o mais difícil de entender) Deus visando um propósito maior, ou seja, embora não deseje o mal, gera-o ou permite que aconteça para que seu propósito maior seja cumprido.

sábado, 16 de abril de 2011

Série: A Teologia Me Enganou - Deus Interventor I





Nunca me senti assim ao escrever um artigo, como que sobre uma corda bamba. Tatear no escuro, onde as pupilas dilatadas permitem apenas ver contornos de objetos pouco definíveis. Nunca minha busca por equilíbrio me deixou tão em xeque posto os opostos: ou Deus controla tudo, ou nada. Mesmo sob neblina escrevo, até que o sol a dissipe.

Palco de intensas batalhas entre calvinistas e arminianos (não me declaro nenhum dos dois, prefiro fazer a vez de conciliador), o controle total de Deus ou somente a sua intervenção na história me provocou imenso desconforto. Mas só nos movemos se algo nos colocar em movimento. Minhas concepções religiosas foram tiradas da inércia ao ler Brennan Manning  em seu livro “Confiança Cega”:

“A pretensão, toda via, é uma perversão tão traiçoeira, que a confiança [em Deus] não é apenas contaminada por ela, mas corrompida [....] A forma mais corriqueira de pretensão é a expectativa de que Deus vai intervir direta e secretamente nos assuntos humanos”

O mundo vive “na expectativa de que Deus vai intervir”, evitando a doença ou curando, livrando da bala perdida, do roubo, da perda, adiando o luto ou até mesmo ressuscitando dos mortos; presumem que Ele escutará todas as orações garantindo finais felizes. A confiança e a fé são pautadas, fundamentadas, em um Deus que garante bem-estar e segurança. Tudo isso é fruto de uma geração viciada em analgésicos, morfina, intolerante a dor e ao sofrimento, que, ao menor sinal de tempestade, mostra-se suscetível ao desespero; restando-lhe acreditar que a oração tem a obrigação de mudar o curso da vida.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Série: A Teologia Me Enganou - A Oração "Move" o Coração de Deus





Dentro do cristianismo protestante configuram-se diversos ídolos que, diferentemente do catolicismo, não possuem imagem, forma, mas um espírito, intocável. Questões teológicas cujas verdades não podem ser questionadas abrigam o perigo latente do erro e da idolatria. Dá-se às coisas privilégio de deuses. É comum textos como esse angariarem pareceres contrários, pois, como intenta esse blog, atacam "ídolos postos". Apontarei minhas ideias em direção a oração.

O senso comum diz ser necessário empenho em oração para lograr as bênçãos. "Súplicas e clamores" devem ser levantados a todo tempo. Vigílias durante a noite, campanhas de oração, jejum. Nossas petições devem ser repetidas até que Deus as responda. Aqui começa minha saga. 

A oração, mesmo regada de fé, não serve de instrumento para persuadir Deus a fazer algo, pois, se desejasse fazê-lo por causa do simples fato de fazer, não necessitaria de rogo. Trocando em miúdos, é ilógico imaginar que Deus queira realizar algo mas é impedido por carecer que alguém interceda, ferindo sua soberania. De igual modo fere também o amor se imaginarmos um Deus que sabe o bem a ser feito, mas não o faz porque ninguém pediu. 

terça-feira, 22 de março de 2011

Série: A Teologia me Enganou: O Reino dos Céus é Tomado a Força




Li no livro "Feridos em Nome de Deus" que, na concepção de Paulo Romeiro, a vertente pentecostal do cristianismo protestante, nascida em terras do norte-nordeste e difundida por todo Brasil, herdou de seus coronéis a imagem de um líder intocável, que se coloca sobre o povo e o conduz. Acrescento que, sendo isso verdade, o uso de “peixeiras” e "hombridade" colaram permanentemente no pentecostalismo, tornando a caminhada cristã uma verdadeira cruzada pela conquista e manutenção do Reino dos Céus.

A frase "o Reino dos céus é tomado a força" completa todos os espaços vazios na boca do crente que faz do mérito pré-requisito para sua salvação. Encheu a minha um dia. Nessa argumentação, é necessário o empenho de força, sacrifício e esforço para alcançar o Reino de Deus que está estático, esperando ser alcançado e conquistado por pessoas dignas que trilharam o caminho da dor e do abandono de si mesmo, em um esforço hercúleo. E venceram.

Observe a presença das frases "abandono de si mesmo", "caminho da dor", "sacrifício" e "esforço". Tais palavras conduzem a razão a concordar e validar o pensamento antes mesmo de aprofundar a reflexão. Mas nada seria mais errado e traidor dos ensinamentos e da fé cristã se tomarmos por base a Graça pregada pelo Cristo.

terça-feira, 15 de março de 2011

Série: A Teologia Me Enganou - Deus Temível





Ouvindo o “herege” Jorge Vercillo percebi: “a gente cresceu ouvindo histórias demais, pra enraizar a culpa em cada um de nós...”. Embora a intenção de sua fala seja questionável, sua afirmativa lançou luz sobre minha infância: eu cresci com medo de Deus.

Lembro-me que fiquei aterrorizado com a aparente violência de Deus interrompendo uma linda festa, cheia de música e danças, e matando um Uzá que segurou a Arca da Aliança para que ela não caísse no chão. Exclamei: “tadinho dele! Ele só queria ajudar!” Não havia explicação capaz de me confortar. Como se fosse pouco, certa vez ouvi de minha professora da escola bíblica dominical: “pra entrar no céu você precisa tirar dez! Em tudo!” Pronto. Além de violento, agora Deus era pior que todos os meus professores juntos, corrigindo a “prova da minha vida” com uma caneta vermelha na mão, pronto para assinalar meus erros. E se Ele era o mesmo Deus de Israel, mandaria um povo de terras distantes para me castigar.

Deus não podia ser questionado, a fé não podia ser indagada, o erro era intolerável. A punição, infalível.

Série: A Teologia Me Enganou - Nota Introdutória

Essa série nasceu da necessidade que senti de organizar as principais mudanças na minha concepção de Deus e compartilhar os sentimentos e pensamentos que fizeram meu cristianismo se renovar, na passagem da adolescência para a juventude. Esse foi o momento que considero mais importante na minha caminhada cristã até agora: quando os “porque sim” deixaram de ser suficientes para meus “por quês” e saí em busca de respostas mais coerentes. E tenho achado.

Não é uma crítica ao estudo teológico, como se a Teologia fosse ruim. Longe disso. Uso a palavra teologia na sua raiz, usada pela primeira vez por Platão: para referir-me à compreensão da natureza divina de forma racional. A Forma como as pessoas pensam sobre Deus.

A constatação é cruel: muitos se enquadrarão nos posts.