sábado, 21 de maio de 2011

Série: A Teologia Me Enganou - Vitória e Bênção





Ao falar de teologia, lembro-me, inevitavelmente, da lamentável denominada Prosperidade. Em voga nas igrejas neo-pentecostais, o assunto tomou os púlpitos das igrejas e os corações dos fiéis de maneira que, com a ajuda da retórica pastoral e o abuso de versículos descontextualizados, formou-se uma concepção acerca de Deus nitidamente absurda: um Deus que se preocupa mais com o bem estar financeiro e com a honra do nome de seus seguidores do que com a fome na África.

A Vitória e a Benção foram erguidos como "bezerros de ouro" no meio do "arraial" evangélico como forma de lucro e ganho, principalmente para pastores e bispos. Mas o foco deste Post/desabafo está sobre os sentimentos e as impressões que ficam visíveis a partir das reações dos fiéis.

Essa dupla, cordeiros banhados em ouro, transformou, melhor, transtornou o coração do homem, trocando a devoção ao divino pelo mesmo anseio que derrubou Satã: o desejo de ser o divino. A pretensão de reinar sobre todas as dificuldades exprime o intendo de se assemelhar a Deus na sua característica: inabalável. Somente um deus está livre das tormentas. O sinal da queda ainda é visível no homem.

Ainda hoje os crentes não se decidiram entre qual deus seguirão: Jeová ou Mamom. Este, o deus do dinheiro, ocupa os templos que aquele criou pra si. O resultado dessa santificação é percebido na contaminação da única arte que veio do céu e para lá voltará: a música. O louvor congregacional foi trocado por canções cuja temática gravita ao redor de desejos de vitória e exaltação, a adoração cristocêntrica cedeu lugar à veneração de bênçãos materiais. Cristo foi destronado.

Diante de tamanha iniquidade a igreja ousa estender o dedo contra a sociedade e lhes apontar os erros. Esquecendo-se da venda em seus olhos, quer acusar o cisco no olho da humanidade. Mas, como não vivemos mais na Idade Média, os homens já não estão mudos diante da hipocrisia da Igreja: "vocês vão às igrejas em busca do dinheiro, ao púlpitos para arrancar dinheiro dos pobres e enriquecer, arrecadam milhões, gastam milhões, não pagam impostos, elegem-se a cargos públicos, enchem-se de poder, mas são incapazes de estender as mãos aos necessitados! Vocês não tem moral pra isso!". Um Malafaia nunca mais terá condições de pregar o Cristo amoroso a um homossexual.

Quanto a mim, recuso-me a entoar canções que fujam do eixo santidade-amor-redenção-salvação-misericórdia, esforço-me para sentir como o filósofo Goethe: "não vejo falta cometida [por outra pessoa] que eu não pudesse ter cometido" e, assim, alcançar com a mesma misericórdia com que fui alcançado por Cristo. Troquei o "preciso de vitória" pela adoração de Heloisa Rosa: "quando os meus olhos encontram os Seus, descubro que perco pra ti; eu estou aqui". 

Venha teu Reino.

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3 comentários:

  1. O assunto é vasto. Esse é sem dúvidas o tópico que eu mais pensei e elaborei meus argumentos contrários. Mas como um blog deve presar por ter textos mais breves, resumi.

    Um ponto que faltou, mas completo agora, é que a vitória, muitas vezes, é sobre alguém, um ser humano como tantos outros. Isso é lamentável.

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  2. Meus parabéns pelos pensamentos claros e sensatos que você está desenvolvendo em seu blog. Não sei a que linha teológica que suas ideias se enquadram, mas mesmo que não conste em nenhuma, certamente, se mostra uma teologia justa, sincera, da qual o maior objetivo está no pleno amor de Cristo e no desenvolvimento desse amor dentro do contexto em que vivemos. Em seus posts consigo visualizar o pensamento cristocêntrico, dentro de uma visão libertária, em que a preocupação e as ações com o outro se mostram preponderantes.
    Meus parabéns! Continue escrevendo e suscitando debates que promovam essa conscientização.

    Bia Brandão

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  3. Irmão, meus sinceros parabéns pelo post...
    Como você mesmo pode perceber, também não sou um (digamos) fã dessa "teologia", pelo contrário, faço das palavras do amado pregador John Piper as minhas "Sabe o que sinto pela teologia da prosperidade? (...) Nojo"
    Infelizmente já pude vivenciar este tipo de doutrina em minha pequena, mas impactante, vida Cristã, onde pude assistir a muitos "shows de heresia" e pregações distorcidas da palavra de Deus.
    Felizmente, e graças ao nosso Senhor, hoje conheço o evangelho centralizado no Amor de Cristo, nas lutas pelo evangelismo e no "ide e pregai" e não no famoso "Quanto mais você ofertar, Deus te retribuirá a 30, 60 e 100 por um"...

    Que Deus o abençoe sempre e te mantenha assim, justo e humilde.

    PAZ!

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