quinta-feira, 5 de maio de 2011

União Civil de Casais Homoafetivos - A Incoerência no Discurso Cristão




Meu post surpresa se deu pela emergência de um assunto polêmico, apoderando-se de mim que há muito elucubro sobre o tema. É especialmente saboroso quando essas coisas acontecem: ser tomado pela ideia ao invés de tê-la pra si. Dou uma pausa na Série, mas não consigo me afastar do assunto da teologia.

Pela tarde, minha timeline do Twitter foi invadida por inúmeras citações contrárias a #uniaohomoafetiva seguida da hashtag #eudigonao. Milhares de cristãos foram ao meio digital expressar sua opinião sobre um assunto, de fato, polêmico. Melhor seria dizer, foram exercer o seu direto de livre expressão ideológica, mas principalmente religiosa. Direito esse dotado de legalidade e legitimidade que não nego. Alguns deles diziam que “SE ESSE PAIS TEM COMPROMISSO COM O POVO NÃO VAI APROVA” (assim mesmo, com erro de português) ou “SE O BRASIL FOR UM PAÍS SÉRIO NÃO VAI SER APROVADO”.

Considero-me dotado do direito e, mais que isso, do dever de declarar um erro visível nesse meio evangélico atual. Falo de dentro para dentro, de um cristão para um cristão.

Triste é ver como os cristãos de hoje são totalmente incapazes de compreender o mundo em que estão inseridos. Pretendo fazer essa crítica analisando a partir de dois pontos distintos e muito relevantes: da ótica legal e da religiosa. Com a primeira pretendo mostrar que não é válido saber seus direitos e desprezar os seus próprio deveres e os direito dos outros; com o segundo, que há uma grande incoerência no discurso.

Muitos religiosos cristãos levam em suas carteirinhas de membro o Artigo 5º de nossa Constituição de 1988 com os parágrafos que lhe concedem o direito do livre culto, da livre assistência religiosa em hospitais, de se reunir em praça pública e etc. Mas acham que os direitos individuais se resumem a esses, ignorando os dos demais. Existem casais homoafetivos que, depois de viverem juntos suas vidas, ao morrer um de seus companheiros, o outro não possui direito à herança, à pensão. Após anos de dedicação ao outro, após investimentos juntos, após construírem patrimônio em conjunto, seus direitos são negados sumariamente. E a igreja, toscamente, apoia essa injustiça. Partidária, sectária, fazendo acepção de pessoas, o que deveria ser o corpo de Cristo na Terra declara só ter direitos quem compactua com suas concepções morais.

OBS.: comparar união homoafetiva com promiscuidade, pedofilia e zoofilia é inaceitável. Vá estudar um pouco antes de falar doidices.

Aos que afirmam que “SE O BRASIL FOR UM PAÍS SÉRIO NÃO VAI SER APROVADO”, o tiro sai pela culatra. Pois, se o Brasil negar tais direitos, estará passando declaração de próprio punho que sua Constituição não é válida e que o Estado não é laico, sendo dominado pela religião, negando vistas a uma parcela da população (grande, por sinal). Onde está o “COMPROMISSO COM O POVO” (essa parcela do povo)?

Religiosamente falando, desafio que se levante uma única passagem bíblica em que Deus ordene que suas leis sejam impostas sobre todos os homens independente de suas escolhas. Graciosamente falando, ou seja, por meio da Graça, Deus ao declarar seu amor irrestrito ao homem larga de vez as rédeas da humanidade, assumindo o risco de ser rejeitado por ela e deixando ao seu gosto os caminhos a seguir. A base do que chamamos livre arbítrio consiste em dar ao outro a liberdade de escolher, nos amar ou não, seguir o que seguimos ou não.

É triste ver homens que outrora eram pecadores sem redenção, mas foram convidados à liberdade por Cristo, quererem impor seus códigos de conduta sobre toda a sociedade que não os quer. Praticando um Cristianismo à moda Feudal, buscam a proibição e a negação da escolha argumentando que estão protegendo os homens de si mesmos, diminuindo a missão de Cristo a mera participação política, como se o Redentor fosse semelhante a Che Guevara. Aproveitando um gancho, parecem muito com um tal Fidel, que em nome da liberdade provoca uma revolução contra a ditadura e depois, para manter suas convicções, retorna a ditadura. Esse pensamento é incoerente com seus próprios princípios. Como disse Ricardo Gondim: “Deus nos livre de um Brasil evangélico”.

No Post inaugural desse blog, falei sobre um assunto semelhante. Leia aqui.

Sou cristão e não comungo com a homossexualidade. Não concordo com casamento homoafetivo dentro de templos cristãos evocando sobre mim a mesma liberdade que esses evocam para si. A liberdade que as igrejas devem ter em escolher aqueles que julgam melhor preparados para serem seus dirigentes não pode ser afetada, sejam gays, lascivos, adúlteros, neo-liberais,  calvinista (pelos arminianos), arminianos (pelos calvinistas) e etc.  criando-se “cotas” de participação de LGBT's. Cada há de encontrar seu próprio lugar na sociedade tendo como base a convivência pacífica e respeitosa. Além do mais, existem igrejas que os aceitam, os casam e lhes conferem participação ativa. Exigir que todas as igrejas o façam faz parecer que a intenção não é somente garantir seus direitos, mas tomar o lugar do atual opressor e oprimir.
“União civil dos homossexuais: é importante distinguir leis civis, que se aplicam a todos, de valores religiosos que se dirigem aos crentes.” Jung Mo Sung
Observação final: além do mais, se me permitem assumir a fala do fundamentalista, “quem está sujo, suje-se ainda; e quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo, seja santificado ainda” Ap 22:11

Até a próxima.

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