sexta-feira, 29 de abril de 2011

Série: A Teologia Me Enganou - Deus Interventor II






Ao escrever o post anterior percebi que dele poderia derivar outro, dado o fato daquele não saciar meu intento. Retomarei o pensamento.

“O mundo vive “na expectativa de que Deus vai intervir”, evitando a doença ou curando, livrando da bala perdida, do roubo, da perda, adiando o luto ou até mesmo ressuscitando dos mortos; presumem que Ele escutará todas as orações garantindo finais felizes. A confiança e a fé são pautadas, fundamentadas, em um Deus que garante bem-estar e segurança.” Post anterior

Se existe uma “semiverdade”, esta é: Deus quer te ver feliz. Essa ideia, se levada às últimas consequências, ensina que aquilo que não me deixa feliz não comunica a totalidade da vontade de Deus. Portanto, todas as coisas ruins possuem apenas alguns motivos de ser: o diabo, o pecado ou (a meu ver o mais difícil de entender) Deus visando um propósito maior, ou seja, embora não deseje o mal, gera-o ou permite que aconteça para que seu propósito maior seja cumprido.

Essa perspectiva adquire ar nebuloso quando em pauta surge o assunto que, nos últimos anos, tem lançado cristãos contra cristãos e contra o mundo: as catástrofes. Estas provocam dor e sofrimento que só podem ser amenizados no coração do homem normal mediante motivação; algo deve, necessariamente, explicar o motivo de tudo. Das causas supracitadas somente duas julgo aceitáveis no debate, pois atribuir ao diabo tais acontecimentos é superestimar seu poder.

A causa pecado é interessante, mas não subsiste por muito tempo. Ao examinar a passagem bíblica abaixo pretendo propor minha visão por analogia: 

“Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão”. Mt 6:2

Refletindo sobre a essência da questão, vejo que Deus não precisa mais retribuí-los pela caridade, pois estes hipócritas já receberam, dos homens, o seu galardão. De forma semelhante, se o tsunami que atingiu a Indonésia em 2004 proveio de sua idolatria, o preço dos seus pecados foi pago, não por Jesus na cruz, mas por eles mesmos em sua morte, recebendo a justa retribuição divina pelo seu mal. Dessa forma, não há que se falar em redenção pela Graça. Falar em consequência natural do pecado não é o mesmo que afirmar punição divina. Essa pena imposta por Deus nos remete ao terceiro e mais difícil motivo: Deus visando um propósito maior.

Se tomarmos o exemplo anterior, observa-se uma legião de crentes atribuírem a Deus tais acontecimentos. No último ocorrido, o maremoto no Japão, não cessou o falatório de cristãos dizendo ser decorrência do fim dos tempos. Embora seja difícil de acreditar, dizem que as catástrofes acontecem por estar escrito na Bíblia, ou seja, a razão de serem é a determinação divina, dizendo: “é Deus falando!”. Uma variação comum é dizer simplesmente que é sinal do Apocalipse. Dessa forma, Deus permite para que sirva de sinal, milhares morrem e seu retorno, assim, é anunciado. Proponho uma questão para reflexão: foi esse o ministério de Jesus? Respondo: o movimento foi exatamente o contrário. Cristo morreu por amor visando alcançar a humanidade, inaugurando seu Reino. Seria irracional afirmar que agora seu plano é matar milhões para o mesmo fim.

Acredito que a Terra tem seus motivos para se comportar assim. Desde o princípio os terremotos, maremotos, tempestades, furacões e tantas outras manifestações da natureza são comuns. Mas o fato que ninguém se pergunta é: se a Terra tem realmente 6 bilhões de anos, nós (seres humanos) somos uma praga. Em 6 mil anos de historia conseguimos degradá-la como nunca. Os únicos pecados aos quais aceito atribuir algumas das catástrofes são ambição, avareza e desrespeito.

Deixando para trás a dificuldade de expor em um pequeno texto a ideia que digna de um livro, desejo apenas lembrar o que disse no primeiro artigo: “Nunca me senti assim ao escrever um artigo, como que sobre uma corda bamba. É custoso sentenciar que Deus não interfere, ainda que minha inclinação seja maior para este lado. Mas a fé em um Deus controlador (como querem os calvinistas) ou majoritariamente interventor (como defendem os pentecostais e neo-pentecostais) é descartada (por enquanto)

Ainda creio em um Deus que opera milagres, que intervém, de forma excepcional e cujos propósitos minha visão limitada não é capaz de alcançar. Mas me recuso a aceitar, principalmente, um Deus que faz nascer o sol somente sobre a cabeça dos que crêem nEle. Mas essa é outra derivação do tema que suspenderei por enquanto.

Até a próxima.

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