sábado, 1 de abril de 2017

Assassinato por Assassinato


Tempo atrás (muito atrás), falando de UFC (na época que valia tudo mesmo, 120 kg de musculo contra 70kg de gordura, não tinha luva, tinha chute na cara com três ou quatro apoio, caía nocacete de costela quebrada e tudo e o Royce mandava na porra toda), isso, nesse tempo, um amigo... É tava falando desse amigo, ele disse que tinha um jeito certo de dar soco na latrina de outrem, que tinha que sair de um movimento de ombro se não, se jogasse o corpo pra trás e tal e fizesse o movimento com o corpo todo não era soco... era violência. Isso. Aí era violência. Violênça. Groceria. Só aí.

Cara, dar soco não era violência. Robar o movimento com o corpo todo, era.

Se você é boxer é numa luta faz esse movimento é porque você deixou de lutar e passou a brigar, perdeu o controle, levou pro pessoal, ficou puto dentro das calças, deu pití, acusou o golpe, se sentiu acuado, ta desesperado, com medo, com raiva da/por causa da sua vulnerabilidade. Perdeu a razão. Perdeu.

Pensei (agora): necessidade.

O que faz uma ação se tornar violência é a desmedida da ação necessária. Tipo o cara que mudou a entrada do show do Justim Biber de lugar só pra sacanear a mulekada faz-nada que ficou 5 mês acampado. Tipo o cara que pede meia porção de petisco no buteco, pede porção de azeitona, o amigo petralha que leva Glacial pro churrasco com os amigos coxinha.

Não tem necessidade disso.

Tava lendo Antônio Cândido, pergunta pro teu professor de português quem é. Eu tava estudando aqui pra faculdade. Tavu lendo e no meio das letras ele escreveu o que eu li escrito. Bicho, o cara tava falando de literatura e eu na estratosfera vidrado na realidade das coisas, cabeça dividida, rendido mentalmente pelo cotidiano, surrado pelos posts desse imenso portal de notícias de morte chamado Facebook. O cara falô: "o falso heroísmo da violência".

Falso heroísmo da violência.

Cara, sabe aquele efeito dos filme que as imagem passa tudo correndo na cabeça em preto e branco com sonzinho de ruiruriruriru pra vc meio que entender que o cara (geralmente o mocinho) fez o link entre os fatos isolados do filme? Então.

Isso me fez tentar definir violência. Quanto de ação é necessário pro equilíbrio? Quanto de falta de ação desequilibra? Quanto de excesso?

A violência é uma desregulação. Todo erro é uma desmedida.

"Legítima defesa é o emprego da força necessária para se salvaguardar", disse alguém.

Linka ai.


(Ando lendo muito Anderson França)

sexta-feira, 22 de março de 2013

Ensaio sobre o amor



Queria a clareza dos 80 e tantos anos do meu falecido avô que sem se importar com minha meninice me partilhava sabedoria. Não comprada, armada, fast-food de auto ajuda barata; ou cara. Era simples. Certeira. Vivida. Sabedoria que se firmava no riso baixo, chacoalhado, de olhos espremidos, quase debochado (um atributo familiar) ante as respostas incautas dos netos.

Minha inteligência não era fértil, toda fertilidade imaginativa pertencia a meu irmão, mas minha memória...

Lembro-me da frase, melhor diria árvore, que cresceu plantada por "Manel" no meu caminho: "o amor, meu filho, não existe".

Sentado triste sob essa árvore triste, dezessete anos depois, dirigindo meu carro de volta pra casa e John Mayer tocando no rádio "love ain't a thing, love is a verb" a maça de Galileu partiu meu pensamento: de fato, vô, o amor não existe.

Talvez não tenha não existido pra ti como, naquele momento, não existiu pra mim, mas, independente disso, concordamos. Ainda não estou certo da exata proporção de interesse por amor quadrado, mas, se é o que temos pra viver, que se chame amor.

O amor não existe na mesma medida que verbos não existem. Penso na beleza na música de Mayer e na complexidade de tecer fios de amor poético e humano. É, acima de tudo, verbo: exercido, provocado, imóvel por natureza. O amor só existe porque existo.

No final de tudo, permite-me fazer algo que adoro: dizer sobre ele algo que poderei contrariar sem desdizer. Como ensaio, posso fotografar suas infinitas poses e cores.

Essa é em tom pastel.

.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

De graça






Cheirava à naftalina o pensamento de blogar. Tinha teias. Ouvi um rangido de ferrolho de porta.

Mas era um daqueles dias, raros na vida, em que se acorda com um entusiasmo de destruição, de decomposição. Ou então, pra ficar mais otimista (palavra de apelo), uma vontade de abrir um atalho, criar uma nova rota, armar uma ponte ou então reescrever o final de um livro: um livro chamado “Deixe-me sonhar, pois é de graça!”.

Zeca Baleiro vive cantando em meus ouvidos, somos íntimos, “nada vem de graça, nem o pão nem a cachaça”. Sonhar nunca será de graça. No barato, empenha-se tempo. No caro, felicidade. Em ambos, paga-se pouco ou muito da mesma moeda: vida.

Por sonhar moldamos os desejos. E desejos modificam os olhos que olham o mundo. Nenhum Fusca será a felicidade de quem sonha BMW.

E não me venham com essa de que quem não sonha não sai do lugar (imaginem uma meia-caixa-alta). Quem não sai do lugar é quem não gosta de viver. Caminhar por amar a paisagem é diferente de querer pisar o horizonte, dormir na viagem entre a casa e a cachoeira.

Nada contra o sonho. Tudo contra ser grátis.

Sonhar é se comprometer.



.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Delírios - 1




Tive vontade de escrever em meu blog uma coisa qualquer, algo que lhe faça valer o nome, a existência de ser para ser nada certo. Nada ao certo. Como se para ser bastasse ser, independente do que. Como se a vida fosse um invólucro e o viver, conteúdo, essência. E o tempo a ressecar-lhe, ressuscitar-lhe.

E por falar em tempo, que beba do seu próprio veneno e cure-se com seu próprio remédio: tempo dado ao tempo para que se prolongue. Seja para si próprio benção e maldição, que prove os opostos postos em si, sem dó. Que reverencie os homens, temporais que são, que o desafiam, provando a deuses e homens o valor de um momento, recorte da eternidade.

Sendo assim, que a eternidade os carregue com seus momentos, leve seus ventos, invente seus eventos.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Das vezes que me sinto só





O barulho cotidiano é quase funk. Horrível. Tem horas que somente uma boa e generosa dose de silêncio e quietude nos faz bem a alma. Ao sentimento. Essa solidão é predestinação, não abandono, mas possivelmente uma escolha; está-se e não se está só, ao mesmo tempo, sem se contradizer. É canteiro de obras, não escombros. E assombro.

A solidão de quem sente só dói no coração de quem vê. Não é a toa que os amigos se inquietam ao ver-nos cerrados. Aos amantes é quase tortura. Postar-se frente a uma porta fechada é desconfortável, além de preocupante. Essa “porta dos desesperados” pode conter um lindo brinquedo, ou um monstro terrível. Mas para os que sentem é refresco, é banho de mar em pleno verão.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Reescrever




Não é de hoje minha admiração pelo trabalho de Lulu Santos. Desde minha tenra idade, onde, proibido pela igreja de "ouvir música do mundo", escutava escondido, totalmente "rebelde", as melodias que ecoavam no toca fitas de um tio que morava próximo de casa. A musicalidade me encantava. Se me restava algum medo de estar em pecado, esse tio se encarregou de me tranquilizar dizendo que a música "A Cura" falava de Jesus. Na juventude embalou romance, fazendo-me gostar, escondido, de Beatriz Brandão, subentendido, tendo como trilha sonora "Apenas Mais uma de Amor". Talvez tenha sido o cantor “herege” que mais participou e cantou minha vida.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Podres Poderes


Dado os fatos atuais, nenhuma música seria mais divina e mais inspirada para um momento como estes.

Em apoio a nossos bombeiros e tantas outras vítimas de nossos Podres Poderes.




sábado, 21 de maio de 2011

Série: A Teologia Me Enganou - Vitória e Bênção





Ao falar de teologia, lembro-me, inevitavelmente, da lamentável denominada Prosperidade. Em voga nas igrejas neo-pentecostais, o assunto tomou os púlpitos das igrejas e os corações dos fiéis de maneira que, com a ajuda da retórica pastoral e o abuso de versículos descontextualizados, formou-se uma concepção acerca de Deus nitidamente absurda: um Deus que se preocupa mais com o bem estar financeiro e com a honra do nome de seus seguidores do que com a fome na África.

A Vitória e a Benção foram erguidos como "bezerros de ouro" no meio do "arraial" evangélico como forma de lucro e ganho, principalmente para pastores e bispos. Mas o foco deste Post/desabafo está sobre os sentimentos e as impressões que ficam visíveis a partir das reações dos fiéis.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Na Esperança do Recomeço

Escrito em um desses momentos em que a alma luta para encontrar um motivo que faça o corpo respirar.




Na esperança do recomeço descanso
O recomeço que alcança a paz
Confortado por palavras brandas
De amor, carinho e serenidade

Futuros parecem tão distantes
Àqueles que esperam o cumprir
Mas que dias os levariam além
Se não os da prova e da dor pelo porvir?

Só nos resta a esperança
Que é a fé massacrada pelo ardor
Fé tão fortemente combatida
Que até diminuída parece

quinta-feira, 5 de maio de 2011

União Civil de Casais Homoafetivos - A Incoerência no Discurso Cristão




Meu post surpresa se deu pela emergência de um assunto polêmico, apoderando-se de mim que há muito elucubro sobre o tema. É especialmente saboroso quando essas coisas acontecem: ser tomado pela ideia ao invés de tê-la pra si. Dou uma pausa na Série, mas não consigo me afastar do assunto da teologia.

Pela tarde, minha timeline do Twitter foi invadida por inúmeras citações contrárias a #uniaohomoafetiva seguida da hashtag #eudigonao. Milhares de cristãos foram ao meio digital expressar sua opinião sobre um assunto, de fato, polêmico. Melhor seria dizer, foram exercer o seu direto de livre expressão ideológica, mas principalmente religiosa. Direito esse dotado de legalidade e legitimidade que não nego. Alguns deles diziam que “SE ESSE PAIS TEM COMPROMISSO COM O POVO NÃO VAI APROVA” (assim mesmo, com erro de português) ou “SE O BRASIL FOR UM PAÍS SÉRIO NÃO VAI SER APROVADO”.

Considero-me dotado do direito e, mais que isso, do dever de declarar um erro visível nesse meio evangélico atual. Falo de dentro para dentro, de um cristão para um cristão.