quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

De graça






Cheirava à naftalina o pensamento de blogar. Tinha teias. Ouvi um rangido de ferrolho de porta.

Mas era um daqueles dias, raros na vida, em que se acorda com um entusiasmo de destruição, de decomposição. Ou então, pra ficar mais otimista (palavra de apelo), uma vontade de abrir um atalho, criar uma nova rota, armar uma ponte ou então reescrever o final de um livro: um livro chamado “Deixe-me sonhar, pois é de graça!”.

Zeca Baleiro vive cantando em meus ouvidos, somos íntimos, “nada vem de graça, nem o pão nem a cachaça”. Sonhar nunca será de graça. No barato, empenha-se tempo. No caro, felicidade. Em ambos, paga-se pouco ou muito da mesma moeda: vida.

Por sonhar moldamos os desejos. E desejos modificam os olhos que olham o mundo. Nenhum Fusca será a felicidade de quem sonha BMW.

E não me venham com essa de que quem não sonha não sai do lugar (imaginem uma meia-caixa-alta). Quem não sai do lugar é quem não gosta de viver. Caminhar por amar a paisagem é diferente de querer pisar o horizonte, dormir na viagem entre a casa e a cachoeira.

Nada contra o sonho. Tudo contra ser grátis.

Sonhar é se comprometer.



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