quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

O Twitter e a Comunicação

O Grito – quadro de Edvard Munch

O vestibular é conhecido por mudar a vida e o futuro das pessoas pelo efeito que gera. Ser aprovado é de dividir a vida. Mas esse ano a UERJ colaborou particularmente antes mesmo de divulgar seu resultado. O tema da redação me foi motivo de grande achado. Após a transcrição de um trecho da fala de Saramago em entrevista, onde o autor disse considerar o Twitter um “empobrecimento da comunicação” por limitar a fala a 140 caracteres, a seguinte pergunta se lia:

“Você concorda que há um empobrecimento das formas de comunicação?”

Seres humanos são pobres. É tão difícil entender isso? Não avalio ser penoso concluir que as pessoas dão utilidades fúteis a instrumentos ricos. Precisamos voltar àqueles exemplos infantis onde comparamos o invento de Santos Dumont e a utilidade dada pelos norte-americanos em Hiroshima. Estou plenamente convicto que não há empobrecimento das formas de comunicação, mas sucateamento da habilidade de se comunicar.

O homem adquiriu a debilidade de, quer falando muito, quer pouco, não se comunicar. As constantes guerras, assassinatos, desigualdades sociais, divórcios e preconceitos evidenciam a dificuldade que temos de entender e se fazer entendido.

Uma faceta mais branda dessa incapacidade é salientada nos meios de comunicação da Internet em ferramentas como o Twitter onde a disseminação de futilidades, efemeridades e baixarias ganham proporção e abrangência e não é por se limitar a 140 caracteres. 

A desconstrução presenciada no quadro de Edvard Munch, um dos mais importantes do expressionismo, é aceitável visto que a desconstrução é baseada na construção de um ser ou uma idéia mais profunda e real que a primeira. Por traz de um homem, há o desespero e a angústia de quem sofre. O Grito não contém uma palavra, mas comunica uma visão altamente crítica do mundo e do homem mesmo com sua imagem distorcida, fora dos padrões, limitada a pouca definição e cor. A comunicação não se restringe a palavras, muito menos a grande quantidade delas. Mudanças significativas na História se deram a partir de pequenas frases que cabem dentro dos limites do Twitter: “ser ou não ser? Eis a questão”, “penso, logo existo”, “Só sei que nada sei”, “crucifique-o!”

A minha história mudou na primeira vez que Beatriz me disse “Te amo”. Valeu mais que um volumoso livro.

Aceito que alguém escreva com poucas palavras, mas não aceito quem não lê “fome” nos olhos de um mendigo. Aceito que um pastor diga “puto” no Twitter ao se revoltar contra a injustiça feita aos indefesos, mas não aceito que digam “Deus de vitória” com o coração egoísta. Aceito que alguém fique dias sem aparecer na minha “Timeline”, mas não aceito quem aparece de cinco em cinco minutos narrando futilidades.

Agradeço a Contardo Calligaris, Ricardo Gondim, Fabrício Carpinejar e Ed René Kivitz. Pessoas que me ensinam muito, dizendo pouco.

Abraços

Um comentário:

  1. Sempre admirei vc pq pensa muito e fala pouco, aliás admiro pessoas assim, q fazem ao invés de falar.
    Prefiro quando demonstram que me amam do que digam o tempo todo.
    Bjs primo,

    Thaís.

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