O barulho cotidiano é quase funk. Horrível.
Tem horas que somente uma boa e generosa dose de silêncio e quietude nos faz
bem a alma. Ao sentimento. Essa solidão é predestinação, não abandono, mas
possivelmente uma escolha; está-se e não se está só, ao mesmo tempo, sem se
contradizer. É canteiro de obras, não escombros. E assombro.
A solidão de quem sente só dói no
coração de quem vê. Não é a toa que os amigos se inquietam ao ver-nos cerrados.
Aos amantes é quase tortura. Postar-se frente a uma porta fechada é
desconfortável, além de preocupante. Essa “porta dos desesperados” pode conter
um lindo brinquedo, ou um monstro terrível. Mas para os que sentem é refresco,
é banho de mar em pleno verão.
A solidão é e não é. É pura companhia.
Não entendo bem que medo as pessoas têm de estarem a sós consigo mesmas. Talvez
não se suportem, achem-se mesmo pouco interessantes para uma boa conversa. E de
fato devem ter boas razões para isso. A alma tem horas que grita, tem horas que
irrita. Nada grave. Não saber conviver com sua única companhia inseparável deve
ser realmente doloroso.
Quando é escolha, delícia. Quando
predestinação, também; mas nem tanto. Ao socialmente dado a escolha é saborosa. Àquele forçado, algumas horas de desgosto. Auto-reclusão obrigatória quando
passa do tempo é prisão. O que era liberdade vira cárcere, amortece.
Àquele que não tem outra escolha só lhe
cabe desfrutar da guerra e da paz de ser o que é. (Meio Caetano isso...)
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